sábado, 13 de setembro de 2025

Memórias do MOVA São Paulo

                                 São Paulo, Brasil, 13 de setembro de 2025.

 Instagram: @escritasenarrativas

Artista Professor Daniel Rodrigues Hernandez.

Blog Escritas e Narrativas.

  

MEMÓRIAS DO MOVA SÃO PAULO

A ALFABETIZAÇÃO ENQUANTO EXERCÍCIO DE CIDADANIA

 

Resumo

Este projeto de pesquisa tem como objetivo principal investigar as memórias de educadores e educandos participantes do MOVA (Movimento de Alfabetização) São Paulo. O projeto de pesquisa concebe a alfabetização de jovens e adultos enquanto exercício de cidadania, incidindo suas investigações acerca das práticas alfabetizadoras desencadeadas. O trabalho com as memórias buscará ser estruturado de acordo com a ressonância que a participação no MOVA São Paulo se deu e/ou se dá na vida de educadores e educandos.

Palavras-chave: Memórias – Alfabetização – Cidadania – Educação.

 

1. Introdução e justificativa

A construção desse projeto de pesquisa advém da nossa preocupação com a Alfabetização de Jovens e Adultos. Nosso objetivo é investigar as memórias de educadores e educandos do MOVA São Paulo concebendo a alfabetização como exercício de cidadania e promotora de Inclusão Social dos alfabetizandos. Isso ecoa também na vida dos educadores que ao alfabetizarem partilham as histórias de vida ali presentes na sala de aula, partindo desse universo cultural para a alfabetização. Concebemos que a alfabetização é a conquista da língua escrita pelos alfabetizandos que antes estavam excluídos social e culturalmente.

Nesse contexto é importante compreendermos que “a oposição feita entre a ‘alfabetização como conquista da língua escrita’ e a ‘alfabetização instrumental’ será tanto mais rica quanto mais ela puder subsidiar o abandono de certas práticas pedagógicas que, durante anos, tem abafado a criatividade e comunicação (...). Evidentemente, não se trata de ignorar os benefícios práticos conquistados pela possibilidade de ler e escrever nem, muito menos, de fazer a apologia da incorreção gramatical. Mas, sob uma nova ótica do ensino da língua materna, garantir tanto nos princípios como nas práticas pedagógicas, a defesa do potencial expressivo tipicamente humano, indissociável da ação, da oralidade e do pensamento” (COLELLO, 1994: 150).

É nesse sentido que concebemos que a Alfabetização de Jovens e Adultos deve garantir a liberdade de expressão e de pensamento para a garantia da construção do conhecimento. Deve-se partir desse universo semântico já oriundo do cotidiano dos educandos para incentivá-los a exercer a criatividade e comunicação no âmbito do processo de alfabetização.

O MOVA (Movimento de Alfabetização) surgiu em 1989 no município de São Paulo na gestão da Prefeita Luiza Erundina e como Secretário de Educação o educador Paulo Freire. O MOVA nasce como uma parceria entre a prefeitura e a sociedade civil para a promoção da Alfabetização de Jovens e Adultos, sendo um programa que combate o analfabetismo, oferecendo o acesso à educação de forma adaptada às necessidades e condições dos alunos jovens e adultos.

A memória dos educandos e educadores do MOVA São Paulo “nos remete diretamente a seus portadores, os sujeitos. Cada sujeito emerge, então, para o pesquisador, como uma espécie de arquivo dinâmico – sempre a remexer seus guardados – num fascinante jogo caleidoscópico que modifica periodicamente suas representações, através de ressonâncias infinitas que ora tangenciam, ora se interseccionam com outras memórias” (WHITAKER, & VELÔSO, 2005: 5). Desse modo espera-se trabalhar com as lembranças dos participantes do MOVA São Paulo, possibilitando retratar os aspectos pedagógicos, subjetivos e a expressão da cultura desses sujeitos na medida em que se relacionam no âmbito do processo de alfabetização e de conquista da cidadania.

É importante dizer que a memória é o retrato da identidade de educandos e educadores do MOVA São Paulo. E o momento de seu resgate possibilita a construção desse “jogo caleidoscópico” de “ressonâncias infinitas”. E é desse modo que encaramos as memórias que buscaremos conhecer para interagirmos com a vida dessas pessoas permitindo a tessitura de uma rede de interações em que a cidadania plena está sendo realizada a partir da alfabetização.

E ao falarmos sobre o exercício da cidadania é importante destacarmos que a “cidadania, palavra derivada de cidade, estudada por Aristóteles, é melhor compreendida se pensarmos a cidade como o Estado. Desse modo entendida cidadania, é possível dizer que, todo cidadão, que integra a sociedade pluralista do Estado democrático, é senhor do exercício da cidadania, a qual, em síntese, é vocábulo que expressa um extenso conjunto de direitos e de deveres. Esta ideia, de exercício de um vasto conjunto de direitos e de deveres, consiste o conceito amplo de cidadania, cujo conteúdo, superior ao conceito estrito de cidadania, o qual é percebido unicamente como o exercício do direito e dever políticos de votar e de ser votado, só adquire pleno significado, no mundo contemporâneo, num Estado Democrático de Direito. E, normalmente, na atualidade, quando fazemos referência à cidadania, estamos falando de seu sentido ampliado. Como se disse há pouco, perceber o pleno alcance do conceito amplo de cidadania, hoje, exige, necessariamente, o ambiente de vida e de convívio entre os homens (e mulheres) típico e próprio de um Estado Democrático de Direito. Em sua acepção ampla, cidadania constitui o fundamento da primordial finalidade daquele Estado, que é possibilitar aos indivíduos habitantes de um país o seu pleno desenvolvimento através do alcance de uma igual dignidade social e econômica.

É nesse sentido de pleno desenvolvimento que a alfabetização contribui na conquista do exercício pleno da cidadania. A Educação de Jovens e Adultos contribui no alcance de uma “dignidade social e econômica” antes impossibilitada pela exclusão social que o analfabetismo inseria os hoje alfabetizandos. E é na realização plena do Direito à Educação que se dá o MOVA São Paulo. Esse direito tantas vezes negado historicamente no Brasil. E é essa inserção no patamar de alfabetizando que garante o desenvolvimento de sua cidadania viabilizando a realização de seu direito de estudar e buscar a sua alfabetização, algo que outrora não pôde realizar por não ter tido a oportunidade de exercer esse seu direito de cidadão.

E é de fundamental importância para compreender como os jovens e adultos se alfabetizam verificarmos que “o desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais não são recebidas passivamente (...). Quando tentam compreender, (...) necessariamente transformam o conteúdo recebido. Além do mais, a fim de registrarem a informação, (...) a transformam. Este é o significado profundo da noção de assimilação que Piaget colocou no âmago de sua teoria” (FERREIRO,1986: 24). (grifo da autora)

Devemos seguir nesse caminho compreendendo que o processo de alfabetização se dá no universo do educando. Com seus símbolos, signos e sua linguagem própria que antecede a inserção no mundo da alfabetização. É nesse sentido que é importante resgatar a(s) primeira(s) “Leitura(s) do Mundo” dos alfabetizandos para promover a sua entrada no contexto da alfabetização, garantindo a conquista da língua materna e a aquisição da leitura e escrita que são as principais conquistas desses jovens e adultos participantes do MOVA São Paulo.

BRANDÃO (1995: 102) preconiza a Educação como prática social que “existe em toda parte e faz parte dela existir entre opostos. (...) Entre sujeitos igualados pelo trabalho comum e o saber comunitário, também a educação pertence do mesmo modo a todos e, se existe diferente para alguém, é para especializar, para o uso de todos, o seu saber e o seu trabalho. Mais do que poder, portanto, ela atribui compromissos entre as pessoas” (grifos do autor).

A Educação, concebida a partir da concepção do autor acima, está inserida num contexto sociocultural mais amplo que a escola – instituição social que atua na prática da Educação Formal –, atribuindo à educação uma conotação de prática comunitária e popular que atua promovendo compromissos e vínculos, gerando uma responsabilidade social pela prática educativa.

O MOVA São Paulo enquanto prática de Educação Popular garantido pela parceria entre Estado e Sociedade Civil se insere enquanto práxis comunitária promovendo a Alfabetização de Jovens e Adultos e possibilitando essa Inclusão Social mais ampla dos educandos garantindo a partir do direito de se alfabetizarem a formação de cidadãos.

O que é “fundamental é que o educador alfabetizador, seja ele professor ou orientador, perceba que para poder trabalhar este movimento de construção das hipóteses, (...) é indispensável conhecer, detalhadamente os desafios cognitivos de cada um. Desta forma, poderá construir sua intervenção, refletiva, elaborada, buscando desequilibrar e encaminhar adequadamente a hipótese que desafia cada aluno. Neste sentido, esse educador alfabetizador exercita sua pesquisa cotidiana. Não com os mesmos objetivos do pesquisador acadêmico, mas como aquele que investiga, indaga sobre as hipóteses que almeja constatar em sua ação pedagógica. Caso contrário, sua intervenção acontecerá de modo vago, impreciso, correndo o risco de cair numa prática espontaneísta, como também cairá em extremo oposto se, mecanicamente, rotular seus encaminhamentos e propostas de atividades, ‘só para os silábicos, só para os pré silábicos, só para os alfabéticos’” (FREIRE, 1990:9). (grifos da autora)

O que podemos vislumbrar desse quadro acima retratado é a importância de, na Educação de Jovens e Adultos, trabalhar com o potencial de cada um. Tendo a dimensionalidade do coletivo, mas sabendo pesquisar cotidianamente os avanços individuais. Desse modo, pode-se caminhar numa alfabetização rica de significados e problematizadora no que concerne a ação pedagógica do alfabetizador. E é importante destacarmos que não pode haver exclusão de alfabetizandos por se encontrarem em estágios diferentes de alfabetização. Deve-se sim trabalhar de modo que se atenda a globalidade da sala de aula, potencializando as individualidades e garantindo assim o processo de alfabetização.

Outro conflito estabelecido na relação alfabetizador-alfabetizando no âmbito pedagógico pode ser verificado na realidade brasileira a partir da investigação de livros didáticos incorporados na estrutura curricular e nas práticas educativas desencadeadas, como é exemplificado na análise do “livro de Subsídios para a implementação do guia curricular de Língua Portuguesa para o 1o Grau (1a e 2a séries), onde aparecia, logo no início, o desenho de um pacote de leite em forma piramidal – embalagem típica das sociedades industriais avançadas. Em seguida, frases como as que seguem: (grifo da autora)

 

     Vovó gosta de uva (desenhada). Titia perdeu a luva (também desenhada).

                   Ana viaja de vapor (aqui o vapor está desenhado com fumaça e tudo)

      A seguir palavras em destaque: ameixa, clube, iglu. E perguntas:

                  Qual das figuras parece uma gravata borboleta? (WHITAKER, 1991: 22)

 

impedindo dessa forma o fomento na escola de um ensino emancipatório que dialogue com a realidade e a cultura dos seus alunos e da comunidade escolar do seu entorno. É importante destacar que, esse resgate cultural, somado à alfabetização oferecida em diferentes espaços (escolares ou não), como indicado por WHITAKER (Ibdem, 23) – que analisa o impacto da imposição de um livro didático, como os Subsídios citados anteriormente, no âmbito da educação rural – se realiza na medida em que a alfabetização “tem que procurar na cultura em que (...) se formam a ligação com esses conhecimentos. A luva da titia é completamente diferente da luva usada no corte de cana. Mas esta última é que está para esses grupos carregada de riqueza semântica. Se partir da luva grosseira que está habituada a ver em casa, (...) poderá chegar à luva charmosa das mulheres elegantes das classes urbanas. Evidentemente tal caminho desvelaria diferenças sociais dramáticas que estão dissimuladas na escola”.

Nesse sentido, compreende-se a “Educação como Cultura”, de acordo com a abordagem de BRANDÃO (1985: 95), elucidando uma compreensão amplificada da ação educativa, preconizando-a enquanto práxis cultural em que “a cultura age, e é isso que legitima a proposta política de um trabalho pedagógico através dele. (...) a ação de uma qualidade de cultura pode modificar a qualidade de uma outra”.

E é nesse contexto que se insere o resgate da memória de educandos e educadores do MOVA São Paulo, buscando compreender a Alfabetização como Cultura, podendo configurar em suas memórias, retratos de suas vidas, de seus medos, alegrias, angústias, descobertas. Enfim, poder mexer com os guardados e as lembranças dos participantes do MOVA São Paulo. Dessa forma pode-se viabilizar o encontro com o passado e a análise do presente podendo constituir as diferentes maneiras de se expressar dos educandos e educadores e de como o processo de alfabetização ressoa em suas vidas podendo garantir a conquista de uma cidadania plena a partir desse processo.

Para ser empreendida uma análise das memórias do MOVA São Paulo deve-se (de acordo com o enfoque trabalhado nessa pesquisa) partir de uma abordagem desmistificadora, como a do procedimento investigativo realizado por GEERTZ (1978: 38) “temos que descer aos detalhes, além das etiquetas enganadoras, além dos tipos metafísicos, além das similaridades vazias, para apreender corretamente o caráter essencial, não apenas das várias culturas, mas também dos vários tipos de indivíduos dentro de cada cultura, se é que desejamos encontrar a humanidade face a face”.

E é nesse caminhar que se encontra nossa análise das memórias do MOVA São Paulo. Buscando encontrar cara a cara as culturas inerentes aos participantes do MOVA, as realidades em que eles vivem, suas dificuldades, seus sonhos. Para que dessa forma possa ser alcançada a análise de sua diversidade contemplando também a identidade de cada um. É nesse caminhar que resgatar as memórias pressupõe um trabalho dialógico que viabilize um encontro fecundo entre entrevistador e entrevistado podendo nesse momento trazer à tona histórias que norteiam o contexto em que estão inseridos educadores e educandos do MOVA São Paulo.

E no que concerne à alfabetização de jovens e adultos é importante destacarmos que “ler e escrever constitui, hoje, uma demanda social que precisa mais do que nunca ser re-significada (...). Nesse sentido, é fundamental redefinir junto aos professores o conceito de alfabetização e o que significa estar alfabetizado numa sociedade contemporânea letrada. O domínio do sistema linguístico é ferramenta indispensável para o exercício da cidadania, embora nossa experiência demonstre que nem sempre saber ler e escrever garante ao indivíduo autonomia e participação civil” (POSSAS, 1999: 29).

É nesse âmbito que se realiza plenamente o MOVA São Paulo, buscando garantir a aquisição da leitura e da escrita para a inserção dos alfabetizandos em nossa sociedade contemporânea. E o processo de alfabetização se encontra em constante redefinição com múltiplas acepções que devem contribuir na garantia de que o direito a ler e escrever seja garantido na educação de jovens e adultos (e, quiçá, para as crianças também) garantindo assim o exercício pleno de sua cidadania.

Em relação ao processo de alfabetização enquanto conquista da cidadania, deve-se reconhecer que essa “não passa somente pela aquisição dos direitos políticos instituídos, como o sufrágio universal. A cidadania se conquista com a aquisição de direitos civis, direitos políticos e direitos sociais, que em nosso país, não foram alcançados igualitariamente por toda nossa população” (PIZZIRANI, 2006: 25).

E é nesse processo de conquistar a cidadania que o MOVA São Paulo enquanto rede social e educacional vem contribuindo continuamente na alfabetização de seus educandos. E na sociedade brasileira deve-se compreender que são muitos aqueles que estão excluídos dos direitos de cidadania, sobretudo, os analfabetos, a quem não foi garantido o acesso à educação. E a alfabetização enquanto exercício pleno da conquista da cidadania deve partir da “leitura do mundo” (como já indicado anteriormente) dos alfabetizandos para, a partir desse universo semântico já adquirido em suas histórias de vida se possa partir para a conquista dos signos da alfabetização na língua materna.

FREIRE (1990, 164) ao tratar da temática da “Leitura do Mundo” (por ele cunhada em sua vasta obra e práxis educativa dedicadas a uma “educação como prática de liberdade”) na alfabetização, alerta para o fato de que essa “está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais não lemos. (...) A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado sem seus textos críticos próprios". Nesse sentido, verifica-se a importância de, no âmbito da alfabetização, os educadores, buscarem respeitar a “Leitura do Mundo” dos seus alunos, pois essa “leitura representa o ‘ponto de partida’ para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da produção do conhecimento”. (FREIRE, 1997: 139) (grifo do autor)

E o fundamental na “Leitura do Mundo” dos alfabetizandos é poder trazer à tona no processo de alfabetização sua história, sua cultura, suas experiências de vida. Desse modo, trabalha-se de maneira dialógica garantindo o respeito aos conhecimentos já adquiridos pelos educandos e a sua inserção enquanto conteúdos a serem trabalhados em sua alfabetização. Desse modo, se constitui um método de alfabetização democrático que incide sobre a construção de sujeitos históricos dos alfabetizandos do MOVA São Paulo garantindo o direito de usar a sua voz e suas trajetórias na realização de um itinerário fecundo na promoção de sua alfabetização.

A investigação e análise das memórias do MOVA São Paulo em sua perspectiva cultural incide sobre “uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações, uma memória também ao definir o que é comum a um grupo e o que o diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras socioculturais” (POLLAK, 1989: 3). Compreendendo aqui a memória como momento de resgate das “lembranças” do MOVA São Paulo, que é definida por BOSI (1979, 284), apontando que “a lembrança é a sobrevivência do passado. O passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembrança”.

 

2) Objetivos

2.1 Objetivo geral

Investigar as memórias do MOVA São Paulo dando voz a seus educadores e educandos, retratando experiências de conquista de cidadania, a partir de uma proposta alfabetizadora capaz de gerar um processo educativo emancipatório.

 

2.2 – Objetivos específicos

· Refletir de que forma o processo de alfabetização promovido pelo MOVA São Paulo contribui na conquista da cidadania de seus alfabetizandos;

· Possibilitar a fala e a escuta dos sujeitos (educadores e educandos) envolvidos no MOVA São Paulo, em vista de um estudo de suas trajetórias individuais e memórias construídas em torno do projeto e o estudo das representações, construídas por eles, a respeito da alfabetização e da conquista da cidadania;

· Analisar como se constituem as práticas alfabetizadoras promovidas pelo MOVA São Paulo enquanto práticas emancipatórias e dialógicas.

 

3) Procedimentos metodológicos

 Com vistas a realizar a investigação e pesquisa das memórias de participantes envolvidos no MOVA São Paulo, buscando refletir a partir das práticas de alfabetização promovidas, trabalharemos com a seguinte proposta metodológica:

1 – Estudo e Análise Bibliográfica: Leitura de textos que tratem da temática da alfabetização de jovens e adultos, memórias e educação para a cidadania.

2 – Entrevista com a coleta de “depoimentos ressoantes”: Será realizada com 2 educadores e 4 educandos do MOVA São Paulo:

A distinção dos sujeitos de pesquisa faz-se necessária apenas para incorporar, além dos “depoimentos ressoantes”, o enfoque nas entrevistas, investigando também uma “memória docente”, indicada a partir da “perspectiva da contra-memória trabalhada através da análise de histórias de vida e de relatos de prática docente apresenta-se, pois, como possibilidade mais efetiva de colocar os professores em um processo de autoformação que é simultaneamente individual e coletivo” (CATANI & BUENO & SOUSA & SOUZA, 1997: .33).                                

Como esclarecido ao longo do projeto aqui apresentado, espera-se nessa pesquisa trabalhar com a memória dos educadores e educandos do MOVA São Paulo. Para alcançar esse objetivo serão realizadas entrevistas com os participantes do projeto para que esses possam expressar suas lembranças e suas representações em torno das ideias de alfabetização e conquista da cidadania, com base no que é realizado no desenvolvimento de suas atividades.

Trabalha-se nessa pesquisa contemplando as práticas alfabetizadoras do MOVA São Paulo enquanto uma prática educativa e emancipatória que trabalha a memória dos seus participantes a partir de sua oralidade e subjetividade inerentes à sua integração no contexto do MOVA, consolidando assim um processo de alfabetização que viabilize a conquista da cidadania dos alfabetizandos.

Por meio das entrevistas realizadas serão coletados “depoimentos ressoantes” (como já caracterizado na metodologia de trabalho da pesquisa) para promover a investigação e pesquisa da memória dos participantes do MOVA São Paulo, sendo analisada a visão desses em relação à alfabetização e a conquista da cidadania viabilizada pelo processo educativo.

Os depoimentos coletados nessa pesquisa permitirão “testar a veracidade dos fatos relembrados, o que constitui importante tarefa (...). Mas, além deste aspecto, e talvez mais importante ainda, cumpre verificar se informantes diversos têm os mesmos comportamentos, as mesmas maneiras de ser e pensar e, caso contrário, em que se distinguem” (HALBWACKS, 2006: 145).

Nessa análise poderão ser verificadas as experiências vividas pelos participantes no contexto do MOVA São Paulo, pois os documentos escritos podem pretender a difusão de uma imagem positiva do projeto, ao passo que os depoimentos trazem lembranças, esquecimento, silêncio e conflitos, afinal toda fonte é um ponto de vista específico sobre a questão.

Dar-se-á então o resgate das memórias do MOVA São Paulo a partir do trabalho de análise desses depoimentos, contemplando a oralidade para a investigação das diferentes visões dos seus participantes.

Espera-se com o desenvolvimento dessa pesquisa a sistematização das experiências vividas por educadores e educandos do MOVA São Paulo através da investigação da memória dos seus participantes, viabilizando uma reflexão acerca das relações entre alfabetização e cidadania no âmbito da educação de jovens e adultos.

 

4. Referências

ACCIOLY E SILVA, Dóris. Repressão Política, Resistência e Memória Social: um estudo de Caso. In: WHITAKER, Dulce C. & VELÔSO, Thelma M. (orgs.) “Oralidade e Subjetividade: os meandros infinitos da memória”. Campina Grande: EDUEP, 2005.

ANTUNES, Ângela. Leitura do Mundo no contexto da planetarização: por uma pedagogia da sustentabilidade. Tese de Doutorado defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo em 2000.

Bosi, Ecléa. Memória e sociedade : lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.

Brandão, Carlos Rodrigues. A Educação como cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.

_________________________ O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1995.       

CATANI, Denice & BUENO, B. & SOUSA, C. & SOUZA, M. História, Memória e autobiografia na pesquisa educacional e de formação. In: CATANI, D. (et. all) “Docência, Memória e gênero: estudos sobre formação”. São Paulo : Escrituras, 1997.

COLELLO, Silvia M. Gasparian. Alfabetização em Questão. São Paulo: Graal, 1995.

FERREIRO, Emilia. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1986. Madalena.

FREIRE, Madalena. Prefácio a GROSSI, Esther Pillar. Didática do Nível Silábico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

________, Paulo & SCHOR, Ira. Medo e ousadia. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1990.

____________ Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.                       

GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro : Zahar, 1978.  

HALBWACKS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo : Centauro, 2006       

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro Revista Estudos Históricos, vol. 2, n. 3, 1989.

PIZZIRANI, Fabiane. O papel dos processos de participação popular na gestão municipal: estudo do Orçamento Participativo no município de Rio Claro/SP. Dissertação de Mestrado defendida no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 2006.

POSSAS, Wania Machado. Compreensão e domínio da escrita: vale o escrito. In: Secretaria de Educação à Distância. Salto para o Futuro – Educação de Jovens e Adultos. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.

WHITAKER, Dulce Consuelo. Educação escolarizada: violência simbólica ou prática libertadora? O caso brasileiro.Porto Alegre : Revista Teoria & Educação, 3, 1991.       

 

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